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No castelo
Ponho o cotovelo
Em Alfama
Descansa o olha
E assim desfaz-se o novelo
De azul e mar
À ribeira encosto a cabeça
Almofada
Na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
Lisboa menina moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são colinas, varina
Pregão que me traz a porta, ternura
Cidade a ponto-luz bordada
Toalha a beira-mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
No terreiro eu passo por ti
Mas da graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha, sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são colinas, varina
Pregão que me traz a porta, ternura
Lisboa do meu amor deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Na praça da Figueira
Ou no jardim da estrela
Num fogareiro aceso é que ela arde
Ao canto do outono
À esquina do inverno
O homem das castanhas é eterno
Não tem eira nem beira nem guarida
E apregoa como um desafio
É um cartucho pardo a sua vida
E se não mata a fome mata o frio
Um carro que se empurra
Um chapéu esburacado
No peito uma castanha que não arde
Cai a chuva nos olhos
E te um ar cansado
O homem que apregoa ao fim da tarde
Ao pé de um candeeiro acaba o dia
Voz rouca como o trapo da pobreza
Apregoa pedaços de alegria
E à noite vai dormir com a tristeza
Quem quer quentes e boas quentinhas
A estalarem cinzentas, na brasa?
Quem quer quentes e boas quentinhas ?
Quem compra leva mais amor pra casa
A mágoa que transporta
É miséria ambulante
Passeia pela cidade o dia inteiro
É como se empurrasse o outono adiante
É como se empurrasse o nevoeiro
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas ?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
Ardem no fogareiro dores tamanhas
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